1. Descrição morfológica
Dois pares de asas membranosas bem desenvolvidas, com poucos veios transversais e cobertas de escamas; peças bucais geralmente sugadoras; metamorfose completa com fase de ovo, larva, pupa e adulto; as larvas costumam ter oito pares de apêndices.
Traça mediterrânea da farinha (Ephestia kuehniella):
20 a 25 mm de envergadura das asas; parte superior da asa anterior: banda interior oblíqua, irregular, manchada ou raiada, sem faixa pálida ao longo do rebordo interior; faixa exterior escura.
Traça dos frutos secos(Plodia interpunctella):
10 a 15 mm de envergadura das asas; parte superior da asa anterior: terço interior, bege amarelado pálido; resto da cor bronze.
2. Distribuição geográfica
Traça mediterrânea da farinha
Originária da América Central, agora é cosmopolita. Constitui um problema especial em fábricas de rações, padarias e inclusive em locais dedicados ao catering. Embora geralmente apenas se produza uma única geração, os adultos podem sobreviver todo o ano em climas quentes e dar origem a entre 4 e 6 gerações.
Traça indiana da farinha ou Traça dos frutos secos
Espécie cosmopolita originária da América do Sul. Sobrevive todo o ano em climas quentes.
3. Relevância como praga
As larvas da traça podem causar danos consideráveis nos produtos armazenados quando se alimentam dos mesmos ou os contaminam com os seus próprios produtos, como teias e dejetos. Os adultos não causam danos porque ingerem alimentos líquidos e água ou não se alimentam em absoluto. Os subprodutos das larvas (teias e dejetos) são especialmente problemáticos. As teias podem cobrir completamente a mercadoria e bloquear máquinas e condutas. O problema acentua-se quando se misturam com dejetos, comida e resíduos em geral.
Traça mediterrânea da farinha
As teias das larvas podem provocar obstruções importantes nas fábricas de rações. As larvas furam as sedas de peneiração e também podem alcançar os produtos acabados.
Traça indiana da farinha
Outra espécie particularmente problemática para a indústria da fruta seca. Ataca também os cereais, as sementes oleaginosas e os frutos secos. Por vezes, as teias das larvas podem causar sérios problemas.
4. Ciclo de vida
O desenvolvimento da larva depende em grande medida da temperatura ambiente e do alimento disponível. As larvas têm características e facilmente identificáveis: cabeça desenvolvida; corpo claramente segmentado; 3 segmentos torácicos, cada um dos quais tem um par de patas com 5 articulações; 10 segmentos abdominais: os segmentos 3 a 6 têm patas falsas (propódios) com extremidades com minúsculos ganchos para se fixarem; o décimo segmento tem um par de ganchos.
Traça mediterrânea da farinha
O acasalamento ocorre imediatamente depois de os adultos emergirem. A postura, de até 350 ovos, pode ficar colada a diferentes alimentos através de uma secreção pegajosa. Os ovos eclodem entre 4 e 28 dias depois, e as larvas, de cor branca ou rosada, tecem tubos de seda onde vivem. As larvas completam o seu desenvolvimento após 3 a 5 mudas, com 15 a 19 mm de comprimento. Chegado este momento, afastam-se do alimento e escondem-se durante 7 a 16 dias nos cantos escuros dos edifícios ou nas máquinas. Em climas temperados, as traças hibernam como larvas mas, ao contrário de outras espécies, costumam permanecer nos alimentos.
Traça indiana da farinha
As fêmeas produzem até 500 ovos de cor branco-acinzentada que eclodem entre 1 a 18 dias, consoante as condições. As larvas deambulam pelo alimento e cobrem-no com seda à medida que se deslocam.
A sua cor depende do tipo de alimento:
geralmente são esbranquiçadas, embora possam ter tonalidades de castanho-rosado ou verde. As larvas completam o seu desenvolvimento após 4 a 7 mudas, com um comprimento de 12 mm.
Nesta espécie, o alimento e as condições ambientais têm uma influência importante na fase larvar, de forma que o desenvolvimento pode durar entre 13 e 288 dias. Uma vez maduras, as larvas abandonam o alimento e tecem grossos casulos brancos onde se desenvolverá a pupa, com 7 mm de comprimento. Os adultos emergem após 12 a 43 dias na fase de pupa. As traças podem hibernar como larvas em estado de diapausa, dentro de um casulo de seda.
5. Medidas de controlo
O método e a coordenação das medidas de controlo contra as traças dependem de cada espécie. As larvas são muitas vezes difíceis de alcançar porque se escondem nos alimentos ou na estrutura dos edifícios e não são visíveis até migrarem.
Avaliação das infestações
Para atrair as traças dos produtos armazenados são utilizadas armadilhas adesivas. Sobre a superfície pegajosa que as atrai, e que está parcialmente protegida contra intempéries, são fixadas cápsulas atrativas que contêm feromonas. A seguir, a armadilha é colada a cerca de 2 ou 3 m de altura do chão. São mais eficazes em locais sem pó. Como alternativa, podem utilizar-se armadilhas tipo funil, geralmente de plástico, formadas por um sistema de funis que tem uma câmara em que as traças ficam presas e morrem por efeito de um isco tóxico, água ou detergente. Incluem um isco de feromonas e são especialmente úteis em locais poeirentos. As armadilhas mais simples consistem numa tigela de água com um pouco de detergente. Seja qual for o sistema utilizado, deve respeitar-se o protocolo em questão.
a) Higiene/gestão
É importante, de forma a evitar condições favoráveis para o desenvolvimento das infestações de traças. Os armazéns devem ser construídos de forma a garantirem a manutenção de condições de armazenamento corretas e que facilitem os trabalhos de limpeza. É necessário reduzir ao mínimo as fendas e ranhuras que possam servir de refúgio. As pilhas de produtos devem estar ordenadamente localizadas em paletes, afastadas do chão, deixando um espaço entre as pilhas para favorecer a ventilação, as inspeções periódicas e o tratamento com inseticidas, se for necessário. Uma boa embalagem é fundamental para evitar que as larvas entrem.
Os derramamentos devem ser limpos de imediato e os produtos infestados devem ser fumigados ou destruídos no momento. Os produtos não contaminados não devem ser armazenados perto dos materiais infestados.
No caso das traças domésticas e da roupa, é necessário inspecionar e limpar periodicamente os tecidos e eliminar, se possível, os locais de reprodução alternativos como, por exemplo, ninhos de pássaros. Convém relembrar que os tecidos sujos constituem para estes insetos uma dieta mais atrativa do que os tecidos limpos.